Pesquisa inédita da ONU e
Ministério da Justiça afirma que as regiões Norte e Nordeste são as mais
violentas do país. Mais de 50% dos entrevistados que foram vítimas de algum
crime estão satisfeitos com a polícia, porém apenas apenas 19,9% dos
entrevistados deram queixa.
Um terço dos entrevistados na
pesquisa teme ser confundido com um bandido pela polícia e de ser vítima de
extorsão também pelos policiais. Na imagem, policial militar na favela
Paraisópolis, zona sul da capital paulista. Crédito da
Cerca de 32,6% dos brasileiros
acima dos 16 anos que vivem em cidades com mais de 15 mil habitantes já sofreu
algum tipo de crime ou ofensa, aponta uma pesquisa inédita divulgada
pela Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça (SENASP/MJ)
em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
A “Pesquisa Nacional de
Vitimização” foi divulgada na última quinta-feira (5) e quantifica e
caracteriza 12 tipos de ocorrências passíveis de registro policial no país. Os
crimes e ofensas selecionados para a pesquisa correspondem a furto e roubo de
automóveis, furto e roubo de motocicletas, furto e roubo de objetos ou bens,
sequestro, fraudes, acidentes de trânsito, agressões, ofensas sexuais e
discriminação.
O estudo foi realizado com 78 mil
pessoas em 346 municípios no período de junho de 2010 a maio de 2011 e junho de
2012 a outubro de 2012 e a metodologia utilizada foi a da International
Crime Victim Survey
(ICVS) do Instituto Inter-regional da ONU para Pesquisas sobre Crime e Justiça
(UNICRI).
A pesquisa afirma que nos últimos
12 meses anteriores ao estudo, 21% dos entrevistados sofreram pelo menos um dos
crimes avaliados. A maior incidência foi na região Norte do país com 30,5%,
onde os estados do Amapá e do Pará registraram os maiores números de ocorrência
(46% e 35,5%, respectivamente).
No Nordeste, a taxa de
vitimização é de 22% e os estados do Rio Grande do Norte e do Ceará apresentam
os maiores índices, com 31,3% e 26,6%, respectivamente. No Sudeste, 19,9% dos
entrevistados disseram ter sido vítimas de algum crime. O maior número de ocorrências
aconteceu no Espírito Santo (21%), seguido de São Paulo (20,1%), Rio de Janeiro
(20%) e Minas Gerais (19,1%).
O Sul é a região com as menores
taxas de vitimização do país, especialmente no estado de Santa Catarina (17%).
No Rio Grande do Sul, o índice corresponde a 17,2% e no Paraná a 17,4%.
Vitimização nas capitais
Em relação às capitais, as
tendências nas regiões Norte e Nordeste se mantêm. Macapá tem a maior taxa de
vitimização (47,1%), seguida por Belém (41,1%) e Rio Branco (31,9%). Já as capitais
do Sul não repetem os desempenhos dos respectivos estados. Porto Alegre, por
exemplo, é a sétima colocada no ranking nacional com 27,6% de vítimas
entrevistadas.
As capitais que apresentaram os
menores índices de vitimização foram o Rio de Janeiro (21%), Brasília (20,3%),
Aracaju (19,8%) e Palmas (19%).
Devido a variáveis econômicas e
sociais, o segmento da população que mais sofre os crimes são as pessoas de
poder aquisitivo mais alto, aquelas que possuem maior escolarização e os mais
jovens.
Entre os que pertencem à classe
A, segundo o critério brasileiro de estratificação econômica, 33,45% afirmam
ter sofrido algum crime no ano anterior à coleta dos dados. Entre os que têm
nível superior de escolaridade, essa taxa corresponde a 28,8%. E entre os que
têm idade de 16 a 24 anos, ela é de 25,3%.
Sobre os crimes incluídos na
pesquisa, as agressões e ameaças são os mais comuns, atingindo 14,3% dos
entrevistados. Em seguida, aparecem relatos de discriminação com 10,7%, furtos
de objetos com 9,8% e fraudes com 9,2%.
Bem atrás, aparecem os acidentes
de trânsito com 4,2%, roubo de objetos com 3,6%, furto de carro com 1% e
ofensas sexuais totalizam 0,8%. Furto de motos e roubos de carros atingem,
cada, 0,4% dos entrevistados, roubos de motos chegam a 0,2% e sequestro
relâmpago a 0,1%.
O estudo também ressalta que a
maior parte dos incidentes ocorre dentro da casa das pessoas (38,3% dos casos),
seguido da proximidade com a rua em que vivem (33,3%), o bairro (14,9%) e a
garagem da residência (11,1%).
A pesquisa também apontou que na
maioria dos crimes de agressão, ofensa sexual e discriminação o criminoso era
conhecido da vítima. Na ofensa sexual, 49,3% dos entrevistados conheciam a
pessoa; na discriminação, 17% das vítimas conheciam o criminoso de vista e 11%
eram amigos. Nos casos de agressão e ameaça, os acusados, além de serem
conhecidos de vista da vítima (11,9%) também são, em boa parte, seus vizinhos
(10,7%).
Notificação e satisfação com a
polícia
O estudo concluiu que 19,9% das
vítimas dão queixa na polícia. As regiões Norte e Nordeste são onde as queixas
mais ocorrem, principalmente do Distrito Federal (33,3%), em Roraima (31,3%) e
em Rondônia (31,2%). Os índices mais baixos de notificação estão concentrados
no Nordeste, especialmente na Paraíba (11%) e na Bahia (13,7%).
A capital que lidera o ranking
das notificações é Porto Velho com 35,4%. Em seguida aparecem Brasília (33,2%),
Boa Vista (31,3%) e Cuiabá (29,5%). Já aquelas onde há um número baixo de
queixas são Rio de Janeiro (15,2%), Goiânia (17,3%) e Recife (17,8%).
Dos crimes contemplados no
estudo, o roubo de carros é o que apresenta maior taxa de notificação (90%),
seguido pelo roubo de moto (80,7%). Os furtos, tanto de motocicletas quanto de
automóveis, aparecem em seguida com percentuais próximos – 70,3% e 69,5%,
respectivamente.
As menores taxas de notificação
encontram-se entre as vítimas de discriminação (2,1%), ofensa sexual (7,5%),
fraudes (11,6%), agressões (17,2%) e furtos de objetos (22,6%).
Os entrevistados relataram que o
motivo mais frequente para o registro da ocorrência é a esperança de recuperar
o bem perdido, especialmente nos casos de roubo ou furto de motos (71,4% e
68,6%, respectivamente) e de automóveis (59,5% e 51%, respectivamente).
Nos episódios de discriminação,
além da afirmação de que o registro da ocorrência é um direito (35,8%), 33% das
vítimas reportam o caso para impedir que o fato aconteça novamente.
Entre as vítimas que prestaram
queixa, 54,6% estão satisfeitas com o trabalho da polícia. Os estados em que as
delegacias foram melhores avaliadas foram a Paraíba (65,6%), seguido pelo Rio
Grande do Sul (64,5%), Rio de janeiro (58,5%), Pernambuco (58,3%), Espírito
Santo (58,1%) e Distrito Federal (57%). A aprovação da polícia ficou abaixo da
média em Goiás (48,7%), Rondônia (49%), Acre (49,3%) e Ceará (49,9%).
As vítimas que sofreram acidentes
de trânsito, roubo de carro, discriminação e fraude são as que mais aprovam a
atuação da polícia. Porém, aquelas que relatam roubo e furto de motos, furto de
objetos e principalmente ofensa sexual são os mais insatisfeitos com o serviço
policial que recebem.
As maiores reclamações são da
falta de atenção dos policiais (25,4%), a não recuperação de bens (11,7%), não
resolução do caso (10,8%) e não identificação do culpado (9,7%).
Sensação de segurança
O sentimento de segurança também
foi avaliado pela pesquisa, que mostrou que os homens se sentem mais seguros do
que as mulheres.
A capital em que as pessoas mais
se sentem seguras para andar nas ruas é Florianópolis, que ficou com 23,9% de
aprovação. Já os maiores índices de insegurança estão em Belém (54,6%), Maceió
(52,4%) e Fortaleza (47,4%).
O documento também relata quais
os maiores temores dos entrevistados em suas respectivas vizinhanças. Mais de
50% deles disseram que tem medo de levarem uma bala perdida ou de estarem no
meio de um tiroteio. Já um terço teme ser confundido com um bandido pela
polícia e de ser vítima de extorsão também pelos policiais.
O medo de sequestro ou sequestro
relâmpago atinge 29% dos entrevistados e 26,2% temem sofrer agressão sexual.
Os entrevistados também foram
questionados sobre a sua percepção da criminalidade na cidade em que vivem.
Apenas 9,9% deles afirmaram que a mesma diminuiu nos últimos 12 meses, enquanto
60,3% afirmam que a criminalidade aumentou na sua cidade no mesmo período.
As mulheres (66%) percebem mais o
aumento da criminalidade do que os homens (54%), enquanto os mais idosos
(63,3%) e os que fazem parte da classe A (62,7%) também sentem mais a presença
do crime.
Por fim, apenas 2,7% dos
brasileiros adultos declaram possuir arma de fogo em casa. Na região Sul esse
índice sobe para 4,4% e no Centro-Oeste fica em 4%. Os motivos apontados pelos
entrevistados são prevenção e proteção de crimes ou que a arma pertence às
forças armadas e policiais.
Crédito da foto: Marcelo Camargo/ABr
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