Linhas de atuação para combater a
violência contra a população LGBT foi tema de debate na tarde da última
quarta-feira (11) no Fórum Mundial de Direitos Humanos, em Brasília. Dentre
outras medidas, defendeu-se a inserção plena do tema nas escolas para desenvolver
uma educação inclusiva.
A discussão promovida por cinco
agências do Sistema ONU no Brasil reuniu o deputado federal Jean Wyllys (PSOL),
coordenador da Frente Parlamentar Mista pela Cidadania LGBT e da temática LGBT
e outras expressões de gênero da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos
Humanos; a presidente da Associação de Travestis de Salvador, Keila Simpsom; o
coordenador-geral de promoção dos direitos LGBT da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República, Gustavo Bernardes; e o professor Kleber
Fabio, que sofreu violência homofóbica numa escola de Curitiba e hoje leciona
temas de educação e sexualidade nessa mesma instituição.
“Essa população precisa de medidas emergenciais”,
enfatizou Simpsom ao citar dados do Governo da Bahia, corroborados pelo Disque
100 do Governo Federal, de que uma pessoa é morta a cada 26 horas.
“Quando se fala em travesti, transexual, o que vem
à luz é a sexualidade. As pessoas esquecem que essa população tem amor,
família, emprego.
Queremos discutir a situação do ponto de vista social, não moral”, declarou
Simpsom. “Matar travestis é nocivo para toda a sociedade.”
Além da conscientização da
população em geral, Simpsom defende o avanço de instrumentos legais para que os
crimes não fiquem impunes e uma educação inclusiva para permitir que a
“esquina” seja uma opção e não a única via para as travestis.
Aos 12 anos, Fabio contou para a
mãe que era diferente. Aos 16 anos, na primeira relação sexual, ele contraiu
HIV. “Em diálogos com a UNESCO, percebi que o desafio de se entender como gay
na adolescência acresceu minha vulnerabilidade para o HIV.”
“Dos 12 aos 16, a escola foi um espaço de muita
violência pra mim porque eu era delicadinho, afeminado, não queria jogar bola
na educação física, me tornei alvo de chacota inicialmente e depois de
agressões físicas constantes. Eu não podia usar o banheiro, tive de mudar o
caminho para casa e tive de mudar de escola sete vezes”, relatou.
“Como professor, também enfrentei chacotas, mas
hoje dou aula para os filhos dos que me agrediram”, acrescentou. “Tratamos de
todas as questões de discriminação, não apenas LGBT, mas contra jovens negros e
outras vítimas de violência.”
Segundo Fabio, apesar de
aprovações em diversas instâncias, os documentos não alcançam a realidade das
escolas porque os professores não estão preparados para lidar com a temática.
Destacando que a educação é um
direito humano fundamental, a UNESCO criou uma estratégia de apoio
político-educacional. O guia “Respostas do Setor de Educação ao Bullying Homofóbico” é uma
ferramenta de orientações práticas para enfrentar a violência LGBT na escola e
tornar a educação mais segura para todos.
“Transformador não é o Direito Penal, é o direito
educacional”, afirmou o deputado, que defendeu o direito dos transexuais de
mudar legalmente de nome. Ao falar de um amplo projeto em tramitação na Câmara
dos Deputados, Wyllys afirmou ainda que é preciso garantir atendimento especial
para transexuais pelo SUS, incluindo cirurgias. “Não me venham falar que não
pode porque transexualidade não é doença, porque gravidez não é doença e o SUS
atende.”
O deputado pediu alteração do
Código Penal para criminalizar crimes homolesbotransfóbicos e penas
alternativas à prisão para ofensas e injúrias. Segundo Wyllys, quem defende a
prisão nesses casos nunca esteve numa cadeia. Para ele, o trabalho comunitário
é mais eficiente e educativo.
A “Roda de Conversa: Zero
Discriminação – enfrentando a homolesbotransfobia” foi promovida por meio de
uma parceria entre o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD);
Organização Internacional do Trabalho (OIT); Programa
Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/Aids (UNAIDS); Organização
das Nações Unidas para a Ciência, a Educação e a Cultura (UNESCO);
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF); Conselho
Nacional de Direitos Humanos e Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República.
Imagens: UNIC Rio/Damaris Giuliana
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua participação é muito importante para melhorias de nosso trabalho. Ficamos gratos por participar...